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A ESTÓRIA DO ZÉ


Nascido e criado em São José do Barreiro

          O Zé foi nascido e criado na pequena cidade de São José do Barreiro, Estado de São Paulo.  Até a idade de 15 ou 16 anos, ainda não conhecia outro lugar.  Criado pelos avós, por haver perdido os pais muito cedo, a infância do Zé, também foi como a de muitas crianças pobres, de família humilde, sem alimentar grandes sonhos.


          A felicidade para ele consistia no convívio com os outros moleques da sua idade, e fazer aquelas molecagens inocentes que todas as crianças do interior gostam de fazer: gazetear no horário da escola para roubar frutas nos quintais de famílias abastadas, ou se juntar em grupinhos para tomar banho de rio, pelados, para não molhar a roupa, e, portanto, não apanhar quando chegassem em casa.

          O lugar preferido pelos moleques para natação, era um pequeno açude, mas para eles, era o máximo em volume d'água.  Mas, como toda criança pobre, pelo menos naqueles bons tempos "que não voltam mais",  ao atingir a idade de mais ou menos 16 anos, o Zé precisava se virar para ganhar a vida e ajudar a família. 

          Ainda mais, porque o Zé era parrudão, aparentava ter mais idade do que realmente contava e seria um desperdício não aproveitar a energia daquele moleque para trabalhar.  Mas naquela época, em São José do Barreiro, cidadezinha provinciana, não havia muito que fazer.

          Então o Zé teria que partir para Resende-RJ, uma cidade próxima, onde ficaria na casa de algum parente.  E foi assim, que o Zé deixou para trás, o único lugar que ele conhecia até então.  Mas foi contente, pois lhe agradava o sonho de uma nova vida em uma nova cidade.  Para ele, tudo o que era novo e desconhecido o fascinava.

          O primeiro emprego do Zé em Resende foi como cobrador de ônibus.  Isso foi lá pelo ano de 1970. Naquele tempo, os cobradores de ônibus eram todos molecotes com idade em torno dos 14 ou 15 anos. Bons tempos.  Mas na Empresa, os patrões também viram no Zé, uma especie de desperdício, isto é, um "molecão" daqueles, bem desenvolvido fisicamente, era um forte candidato para uma função em que se precisava de força bruta.

          Assim, não demorou muito, o Zé foi promovido a ajudante de mecânico.  Na oficina da Empresa, o Zé desmontava pneus de ônibus na base da marreta: não havia como hoje existem, máquinas que facilitam a desmontagem de pneus.  Tudo era feito na base da brutalidade.  E o Zé, até que se deu bem no emprego; trabalhador, tudo para ele era novidade, já que até aquele momento não conhecia outra cidade.
O  AÇUDE: Mas na Empresa onde o Zé agora trabalhava, não raro, organizavam se excursões de ônibus para as praias do Rio de Janeiro, tais como Recreio dos Bandeirantes, Grumari, Muriqui, entre outras.  E o Zé descobriu então nessas excursões, a chance de conhecer outras paragens que não conhecia até então. Ele queria conhecer cidades muito além de Resende, e não apenas por "ouvir dizer"; queria conhecer de fato.

          E a oportunidade se apresentou, num certo dia.  A primeira viagem do Zé, para além do seu "território", seria com destino à praia de Itaipu, em Niterói.  O Zé, todo feliz, estaria participando pela primeira vez de uma longa viagem, juntando-se aos chamados "farofeiros", numa excursão para a praia. 

          E assim aconteceu: no dia marcado, o Zé juntamente com os demais excursionistas seguiu na sua esperada viagem num ônibus fretado pertencente àquela Empresa onde o Zé trabalhava.  Durante todo o percurso estrada afora, o Zé permaneceu em pé no ônibus, ao lado do motorista; ele queria apreciar a paisagem, já que tudo era novidade para ele. 

          O Zé não queria perder nenhum detalhe, nenhuma vista, e o amplo para-brisa dianteiro do ônibus, proporcionava essa visão panorâmica; da estrada, das montanhas, das cidades.

          E eis que finalmente, o ônibus passa pela cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, e não foi, senão quando, na travessia da Ponte Rio-Niterói sobre a Baia de Guanabara, o Zé, que nunca havia visto tamanha quantidade de água, exclamoun estupefato: - "NOSSA !  QUE AÇUDE GRANDE, QUE BRUTA LAGOOOONA !!!"

          Pobre Zé, o seu mundo era tão pequeno, que a Baia de Guanabara lhe fazia crer que estava diante de um enorme açude, "parecido" com aquele lá de São josé do Barreiro (???!! Ora vejam só...) Mas, aquelas lembranças de outrora, simples frivolidades, aos poucos se tornariam insignificantes para ele, já que agora estava tendo a oportunidade de conhecer as exuberâncias de um novo mundo!

          E a praia de Itaipu causou uma espécie de êxtase, no coração simplório do Zé: ETA MUNDO GRAAAANDE, SÔ !  NUNCA VI  TANTA ÁGUA  NA  MINHA VIDA !

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