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PADRE MICHEL

          O Padre Michel foi um grande mestre ao Ginásio São Miguel, de Passa Quatro-MG.  Ele era professor em várias matérias: Francês, Latim, Desenho, Canto Orfeônico (que depois foi abolido como matéria).  O Pe. Michel entendia de música, e mantinha um coral sob sua direção e regência: um coral formado pelas meninas, alunas da Escola Normal, colégio dirigido por freiras (INSA-Instituto Nossa Senhora Aparecida), e rapazes, alunos do Ginásio São Miguel, colégio dirigido pelos padres da Congregação Belo Ramo.


          Na capela do Ginásio São Miguel, ele tocava órgão (músicas sacras), durante as missas que eram frequentes naquele educandário católico. Além de Professor e músico, o Pe. Michel também era fotógrafo, e todas as fotos dos alunos do Ginásio (fotos 3 x 4) era ele quem tirava e processava (revelava) no laboratório fotográfico do Ginásio. 

          Além disso, também tirava fotos de todos os eventos que aconteciam envolvendo os alunos, tais como futebol, formaturas, reuniões da UEC (União Estudantil Católica).  Não bastando todas essas atividades, era também o tesoureiro do Ginásio, encarregado de receber as mensalidades dos alunos internos e externos (**).

          O Pe. Michel era de nacionalidade francesa, mas falava o português com perfeição, sem qualquer sotaque característico de pessoas estrangeiras.  Nas suas aulas de francês, ele falava da França com muito orgulho, como se fosse para ele, um país maravilhoso, o melhor do mundo.  Ele exaltava as regiões da França, como L'Ile de France, La Normandie, La Bretagne, etc. 

          Ele falava de todas as diferentes regiões e o que elas produziam, como vinhos, perfumes (os melhores do mundo), falava de um monumental aqueduto construído pelos Romanos, etc.  

          O Pe. Michel também dava aula de religião, mas não era de mentalidade muito aberta, como o Pe. Domingos.  Não.  Ele se prendia muito à Bíblia, e gostava de ensina-la aos seus alunos, sem entrar muito em assuntos polêmicos, ou mais aprofundados. 

          Uma certa vez, ele ensinava o seguinte: era sobre a estória de Abel e Caim.  Pela minha lembrança, era mais ou menos assim: ... naqueles tempos bíblicos, era costume oferecer a Deus sacrifícios, ou seja, um animal (ovelha) era abatido e ofertado a Deus, sobre uma fogueira ardente. As oferendas ou sacrifícios de Abel eram sempre aceitos por Deus, mas as oferendas de Caim, Deus não aceitava, e isso provocou ciúmes entre os irmãos Caim e Abel, e que culminou com Caim assassinando Abel.

          Eu me lembro de que perguntei ao Pe. Michel, como é que eles (Caim e Abel) sabiam que Deus aceitava ou não aceitava esses sacrifícios ofertados, tendo em vista que Deus não era uma pessoa, mas sim, de natureza espiritual, como a gente já tinha aprendido. 

          Bem, o Pe. Michel me deu a seguinte explicação: quando um sacrifício (oferenda) era aceita por Deus, a fumaça da fogueira subia aos céus, e quando não era aceita, a fumaça se espalhava. Seria verdade?  Onde é que estava escrito isso?  Mas na verdade, naquela ocasião, eu não tive mais argumentos diante dessa resposta.  Aceitei, porque o Pe. Michel assim justificou.  Mas se fosse hoje, eu diria, como aquele personagem da Escolinha do Professor Raimundo: "Há controvérsias..."  Mas deixa pra lá, isso já passou.  Estou apenas recordando um momento que ficou na minha lembrança.

          Mais tarde, o Pe. Michel assumiu a Paróquia de Passa Quatro, com a morte do Monsenhor Olavo Magalhães Caminha.  Pelas suas qualidades e versatilidade, pode-se reconhecer que de fato, o Pe. Michel era um homem inteligente, grande professor, e que deixou saudade em todos aqueles que foram seus alunos.  Deus faz maravilhas através de homens como o Pe. Michel, e por isso, ele será abençoado, onde ele estiver, o saudoso mestre, professor e amigo, Pe. Michel. 

          (**) Uma observação: eu mencionei alunos internos e externos: isto porque naquele tempo era assim; esses Colégios, tanto o Ginásio São Miguel como o INSA (Colégio de freiras), funcionavam como internatos, havia alunos de muitas cidades do Sul de Minas, como: Maria da Fé, Pedralva, Lavras, Virgínia, Bocaina de Minas, Minduri, e tantas outras.  Não só de Minas, como também do Rio de Janeiro e Angra dos Reis. Os alunos de Passa Quatro, eram todos externos, porque moravam na cidade, e não precisavam de internato.  E para controlar essa grande quantidade e variedade de alunos, haviam muitos regulamentos que eram rigorosamente observados pelos alunos.  
(Foto: Padre Michel junto com as alunas do INSA - Passa Quatro-MG.  Ao fundo, alunos do Ginásio São Miguel; integrantes do Coral).
Coral do INSA e Ginasio S. Miguel



2 comentários:

  1. Guilherme, lembro me muito bem de vc, fui aluno desse grande educandário , dentro desta linda e saudosa cidade de Passa Quatro.
    Meu nome é Ricardo Natal Bruno sou de Angra dos Reis e me delicio com esses seus contos muito bem escrito e lembrado de nossas proesas.
    Tempos bons aqueles eramos 15 de nossa cidade nós anos de 63 até 66,ótimos anos por sinal.
    Parabéns por essa iniciativa de escrever essas suas lembranças,das quais muitas fiz parte junto contigo.
    Um forte abraço , de vez enquanto eu vou a Passa Quatro matar saudades.

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  2. Obrigado, meu amigo! Seu comentário me incentiva a continuar escrevendo minhas lembranças.

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