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MODA CAIPIRA



          ..."Em riba do espêio pindurei o arreio, lari-larai, lari-larai"... Estes versos, ficaram gravados na minha memória.  Eu os trago comigo, desde os tempos de criança.  Já faz mais de 40 anos. E assim como nunca esqueci destes versos, também jamais concordei com a sua construção...


          Ouvi estes versos, cantados por uma dupla de violeiros e cantadores, que se intitulavam "Canário e Canarinho".  Não me lembro direito da música, nem da letra completa; apenas destes versos.  Outra fala que me lembro, é a seguinte:

          - "Queridos ouvintes, o bom dia do Zeca"...
          - "E o bom dia do Zequinha"...
          - "Nóis vamos apresentá, de nossa própia autoria, uma musga que trais por título, 
             Jardim sem Flor... ( ?!!! )

          Esse maneirismo, essa fala decorada, já desgastada pelo tempo, era muito comum em programas radiofônicos que transmitiam as apresentações (ao vivo), de duplas sertanejas.  Talvez ainda seja comum até hoje, nas Emissoras de rádio por esse Brasil afora, mais do que a gente possa imaginar.

          Mas, como eu dizia, este assunto me faz voltar no tempo.  Tudo ainda está diante dos meus olhos, na minha lembrança.  Recordo que na minha pequena e querida cidade de Passa Quatro-MG, as apresentações de violeiros e cantadores eram frequentes na emissora de rádio que lá havia: a Rádio Clube de Passa Quatro. Acho que vem de lá, o meu gosto pela música sertaneja.

          Esse tipo de música sobrevive através dos tempos, pela força de sua expressão. Mas há uma diferença que se faz sentir entre música Sertaneja, e a "Moda Caipira", propriamente dita.  A música sertaneja, é feita com versos muito bem construídos, e possui uma boa qualidade musical; a moda caipira, é feita por gente muito simples, na maior das vezes semi-alfabetizada, e deixa muito a desejar em termos de linguagem, construção de versos e qualidade musical.

          As duplas caipiras, como invariavelmente acontece, insistem apresentar músicas de sua "propia autoria".  Com certeza, aí está a razão da sua rejeição, com raríssimas exceções.  O caipira comete certas ingenuidades que o tornam hilário, desde a letra de suas músicas, o nome da dupla, ou por exemplo, escrever na aba do seu chapéu de palha o nome de cada componente da dupla de violeiros cantadores.  Isso é o cúmulo da caipirice.  (vejam a foto acima).

          Por isso eu digo que música ou dupla sertaneja é uma coisa, e dupla caipira é outra.  Duplas sertanejas existem poucas.  Duplas Caipiras existem muitas; centenas, talvez milhares. 

          A propósito, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse certa vez, que o povo brasileiro era caipira, e foi muito criticado por isso.  Posteriormente ele se justificou, dizendo que sua intenção não era ofender, e que ele próprio se considerava um "caipira".

          Assim como o nosso ex-presidente, eu também digo que sou um caipira.  Nasci caipira, mas não gosto de caipirices.  Inclusive,  até já desacostumei de falar: UAI !...


         

         

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